Crônicas de um matrimônio italiano – Finalmente o grande dia
Ciao a tutti
Nestes anos todos vivendo na Italia, eu fiquei realmente nervoso em três situações:
1 – No dia em que eu fui até o comune para assinar a minha própria cidadania;
2 – No dia que eu fui entrevistado ao vivo na Rai News, para falar sobre as manifestações no Brasil;
3 – No dia do casamento do Alessio e da Valentina…
E é contando sobre este último nervoso que eu quero terminar essa sessão de crônicas, onde eu compartilhei com vocês tudo que vivemos durante o planejamento de um casamento italiano – do qual fomos padrinhos e que aconteceu no último dia 20 de setembro.
Não poderia deixar de terminar esta série novelística de vídeos sem agradecer todas as mensagens e emails carinhosos da galera que adorou as nossas peripécias durante a coisa toda!
O GRANDE DIA
Finalmente chegou o grande dia…
O dia em que nosso menino Alessio e nossa querida Valentina finalmente trocariam os seus anéis.
Sim porque era disso que este casamento se tratava, já que os pombinhos já dividem o mesmo teto há quase quatro anos.
O que significa que depois da lua de mel, eles voltarão a rotina cotidiana que já estavam acostumados antes, na mesma casa, com o mesmo cachorrinho, os mesmos trabalhos e tudo mais relacionado.
A surpresa de ter que começar a dividir as gavetas, de abrir espaço na geladeira, de perder (no caso dele) 80% das suas gavetas da cômoda e do guarda roupa já aconteceu quando foram morar juntos rsrsrs
A propósito, já que estamos falando nisso, este é um assunto bastante peculiar da cultura italiana: é muito comum que alguns casais, antes de se casar passem a morar juntos, para se conhecer melhor. Isso é tão comum que em praticamente todos os formulários oficiais, na sessão estado civil, podemos escolher tranquilamente “convivente” #ficaadica
LOUCURA, LOUCURA, LOUCURAAAA…
Calma! Antes de continuar o roteiro do dia do casamento, preciso contar a vocês a loucura do dia anterior.
Acontece o seguinte: desde que soubemos deste casório – há um ano atrás – sempre perguntávamos a eles o que nós deveríamos fazer, como poderíamos ajudar, etc.
E a resposta era sempre a mesma: basta a presença de vocês…
Então advinhem o que acabou acontecendo?
TIVEMOS QUE CORRER TUDO QUE NÃO CORREMOS EM UM ANO, NAS ÚLTIMAS 24 HORAS!!!
Tentem visualizar a seguinte cena: no dia anterior, eu chego na casa deles e encontro a Valentina desesperada tentando decifrar a caligrafia do padre para poder imprimir os livrinhos que seriam disponibilizados no dia seguinte – sabem aqueles que ficam em cima dos bancos na igreja? Pois então, imaginem a situação!
E sabem o que é mais absurdo do que isso? Saber que nós temos uma impressora ultra-mega-power a laser aqui no nosso escritório e os candangos imprimindo em uma impressora jato de tintaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Naquele momento eu vi a viola em cacos e pensei nos micos e enrascadas que eu também acabaria passando no dia seguinte, lógico!
Ok, RETORNANDO AO GRANDE DIA…
Acordamos por volta das 8:00 e enquanto a Luciana foi arrumar a cabeleira no salão aqui em Pisa onde já é cliente, eu fiquei em casa cuidando de alguns detalhes.
Tínhamos combinado com os pombinhos que chegaríamos por volta do meio-dia: eu iria para a casa do Ale enquanto a Luciana passaria o dia com a Vale.
E lá estávamos nós por volta do meio-dia na casa deles.
Antes de ir para a casa do Alessio, a Valentina me pediu para passar na casa dela e pegar algumas caixas com arroz (para jogar neles na saída da igreja) e também as coccarde (plural de coccarda – laços para colocar nos veículos, vejam a imagem abaixo):
Pois é, além de toda a correria, eu ainda estava incumbido de ir sorrateiramente meia hora antes do casamento na igreja, para posicionar as tais caixas nas muretas laterais da saída da igreja e assim deixar tudo preparado para os convidados.
Na caixa tinham também os bracciale para as convidadas, outra tradição italiana:
Após pegar as tralhas, passei o dia com o Alessio, onde combinamos que eu ficaria com o seu carro e levaria ele e a sua mãe à igreja (sim, padrinho também é chofer).
A cerimônia estava marcada para as 16:00 horas e de 15 em 15 minutos eu trocava mensagens com a Lu para saber como andavam as coisas na casa da noiva e contava o que acontecia na casa do noivo rsrsrsrs
OUTRA TRADIÇÃO ITALIANA – RECEBER AMIGOS OU PARENTES PRÓXIMOS NA CASA DOS NOIVOS ANTES DA CERIMÔNIA
Outra novidade por aqui é a visita dos amigos e familiares mais próximos durante o dia da cerimônia na casa dos noivos.
Sinceramente queria saber que foi o CORNO que criou essa tradição, porca de uma miséria com tanta correria pra lá e pra cá, ainda tinha que atender a porta em diversos momentos!
Por causa disso, a casa dos noivos é toda decorada para receber tais visitas, consegui fazer apenas uma foto de uma parte da decoração, já na saída do povo rumo a igreja, vejam o noivo saindo com a sua mãe e as tais visitas atrás deles:
CHEGANDO NA IGREJA
Felizmente a igreja era bem perto da casa do Ale, cerca de 5 minutos de carro, o que ninguém esperava era que em pleno mês de setembro estaria o calor maledetto que estava naquele dia.
Imaginem o gordinho aqui, com aquela enorme capa de gordura praticamente derretendo debaixo do sol, enquanto esperávamos a noiva.
Outra situação que quase me fez ter um infarto: a Luciana que não chegava nunca!
Porque a ideia era que ela chegaria minutos antes da noiva, pois assim entrariam na igreja:
1 – o Alessio com a sua mãe
2 – Eu e a Luciana (os padrinhos)
3 – Uma menininha segurando a almofada com as alianças (sim, me salvei rs)
4 – Finalmente a noiva de braços dados com o seu pai
E onde estava a Luciana?????????
O tempo passando até que vejo um pontinho azul chegando, de braços dados com… duas senhoras que, juntas, somavam quase 200 anos!
Vejam como é difícil a vida dos padrinhos: a Lu ficou encarregada de levar a igreja a nonna da Valentina (95 anos) e sua amiguinha, também quase centenária rsrsrsrs
A CERIMÔNIA COM O DEVIDO MICO
Finalmente todos chegaram, entramos na igreja e nos posicionamos lá na frente: eu do lado direito do Alessio e a Luciana lá do lado esquerdo, esperando a noiva.
Eis que chega a noiva e outra coisa que achei estranho: os convidados todos estavam lá fora esperando a entrada dela!
Ou seja, quando ela entrou, a igreja estava praticamente vazia – pois o povo aguardou a entrada dela com o pai e em seguida todos entraram em seguida.
Começa a cerimônia, o padre fala, a gente senta, levanta, senta, levanta até que chega o momento da troca de alianças.
Eu entrego a almofadinha com as benditas, e começa a leitura dos noivos: eu Alessio prometo…..
E aqui cabe um esclarecimento: como o Alessio é uma figura, todos esperávamos que uma hora ou outra ele cometesse uma gafe ou mico kkkkkk
E não é que o bichinho leu tudo certinho, sem nem engasgar?
Na vez da Valentina, ela começa assim:
– Eu Alessio prometo…
COSA? kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk Até o padre perdeu o fôlego de tanto rir! Melhor ainda quando o mico vem de quem não estamos esperando rsrs
E eu lá esperando a minha vez para ler um texto que eles tinham pedido (determinado!) que eu lesse, durante a cerimônia.
Porém só Deus-sabe-porque minha vez não chegou e eu continuei lá esperando, esperando… e nada!
Até que do nada, após a troca das alianças, o padre pára a missa num determinado momento e pergunta a eles quem leria o texto seguinte (não era o mesmo que eu deveria ler) e os dois cretinos juntos viram a cabeça pra mim, tipo: – Vai fio!
Porca vaca!
Ainda bem que o padre estava com um dos livrinhos na mão – sim, aqueles impressos no dia anterior – e eu pedi a ele para me explicar o que exatamente eu deveria ler, consegui fazer uma foto do trecho:
Batendo o olho no texto antes mesmo de lê-lo, percebi que ele era direcionado a algumas pessoas: primeiro aos jovens e namorados; depois aos noivos presentes e por fim às pessoas presentes.
Como diria minha mãe – metido a besta e aparecido do jeito que sou, durante a leitura parava e olhava ora para o público, ora para os noivos, dando ênfase em cada trecho, por exemplo:
Para os jovens e namorados, reconhecendo a eles o dom e a beleza do amor… e olhava para os casais presentes;
Para os noivos aqui presentes, através da vida sacramental saibam buscar força e coragem… olhando para os noivos no altar.
E assim por diante.
No dia seguinte, a Valentina me contou que uma senhora emocionadíssima depois da missa, perguntou a ela quem era aquele homem “fascinante” que tinha lido as últimas palavras da cerimônia, pois ela ficou encantada com a desenvoltura dele kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
E finalmente conseguimos o tão sonhado momento, casamos o Alessio e a Valentina:
A CERIMÔNIA EM UMA VILLA TOSCANA
Depois da igreja rumamos a uma villa toscana, onde aconteceu a festa e a comilança!
Fiz até um pequeno vídeo, para deixar todos vocês com água na boca
A LUA DE MEL – CANADÁ E NOVA YORK
Depois de tanto comer e beber, dormimos na casa dos pombinhos – pois eles passaram a noite num hotel, safadinhos… – pois na madrugada de domingo para segunda os levamos ao aeroporto de Firenze, onde partiram para a luna di miele deles.
E assim termina as crônicas de um matrimônio italiano, espero que vocês tenham gostado de acompanhar comigo essa loucura toda, e nos falamos no próximo artigo 😉
adoreiiii…. li toda a crônica, esperava pelo final para comentar.
Muiiitooo bom!! É divertido ler seu texto e muito interessante aprender sobre os costumes italianos. Parabéns pelo blog… continuo seguindo… bacio!
Fábio
Adorei essa sequencia das crônicas do casamento. Muito interessante e diferente de nossa cultura.
Um grande abraço
Ana
Muito Bom Fabio.
Adorei tudo.
Me casei aqui no brasil e realmente alguns costumes são diferentes.
Até