Hoje é 22 de novembro de 2025 e eis que finalmente chegou o dia da minha despedida oficial do mundo da cidadania italiana. E eu não poderia fazer em nenhum outro local que não fosse onde tudo começou… aqui no nosso querido blog!
Para fazer isso em grande estilo, quero começar compartilhando alguns capítulos que a gente viveu juntos.
MINHA JORNADA NO MUNDO DA CIDADANIA ITALIANA
Toda minha jornada começou na época do Orkut em 2004 e, logo em seguida, veio o nascimento deste nosso blog…
Aí fiz a minha primeira viagem pra Itália e, depois de alguns meses, a segunda e definitiva viagem.
Logo nas primeiras semanas no país, percebi que as coisas não seriam fáceis e nem como tinham me prometido.
Foi então que comecei o meu trabalho de buscador de documentos, como contei neste artigo.
No início de 2008 foi a vez de começar o trabalho como consultor presencial, onde participei de forma direta com o processo de 296 clientes, amigos e familiares.
Anos mais tarde, comecei o trabalho com o mundo online: criei a Área Vip aqui no blog, o Guia Prático da Vida na Itália, o Manual Sagabook, o Curso de Formação Profissional na Busca de Documentos, a mentoria para consultores, o Curso para Consultores.
No meio disso tudo ainda fizemos inúmeros Sagakontros, vários Workshops presenciais e duas edições do meu evento ao vivo, o Esperienza Ao Vivo.
Ainda deu tempo de terminar o meu antigo relacionamento, deixar o Reino Unido e toda a vida que eu tinha construído por lá e voltar ao Brasil logo no início de 2020.
E, depois de 10 dias em SP, cheio de ideias e projetos para aquele ano, começou o lockdown…
A PANDEMIA…
Quem aqui se lembra dos nossos cafés da manhã juntos no Instagram, quando eu estava “preso” morando no Copan, em pleno centro histórico de São Paulo?
Todo aquele caos lá fora e a gente ali discutindo temas super profundos.
Muitos de nós começou a olhar pra dentro e a perceber que o que a gente acreditava ser importante, no fundo nem era tão importante assim.
A gente perdeu amigos, familiares e, fomos relembrados da forma mais dolorida possível, que somos finitos e que o nosso tempo aqui é contado.
Me lembro quando estava morando em BH e, durante uma das janelas de reabertura das lojas, eu fui cortar o cabelo e a barba.
O rapaz que me atendeu me disse uma das frases mais impactantes daquele momento:
“Hoje a gente tá rezando pra poder reencontrar aquelas pessoas que a gente, quando podia, não fazia nenhuma questão ou esforço de encontrá-las.”
Dizíamos que não tínhamos tempo para visitar os pais, os irmãos, os tios, etc…
Não sei você, mas a pandemia me mudou completamente…
O INÍCIO DA TRANSFORMAÇÃO
Na verdade, ela terminou de me mudar.
O verdadeiro início da minha mudança começou cerca de um ano antes, entre o final de 2018 e início de 2019.
Naquele momento eu comecei a olhar pra dentro de mim, coisa que eu nunca tinha feito antes.
Eu comecei a fazer terapia, fiz minha formação em consultor executivo e de negócios, onde aprendi sobre escuta ativa, comecei alguns outros cursos e treinamentos de desenvolvimento pessoal e mais um monte de viagens na maionese.
E foi ali que comecei a perceber e a questionar o porquê das coisas que eu fazia…
E isso transbordou durante os nossos café da manhã juntos, lembram?
A gente falava sobre tudo, menos sobre cidadania italiana.
Como a gente não podia ir pra Italia por causa das fronteiras, eu comecei a colocar pra fora aquilo que eu tinha aprendido e também comecei algumas novas aventuras.
Comecei uma formação de Psicanálise Clínica e ainda voltei pra faculdade, dessa vez cursando Marketing ao invés de Administração, que eu tinha começado lá em 1999.
Vamos relembrar o que mais aprontei durante aquele tempo sem poder retornar pra Itália, preso no Brasil por causa da pandemia:
- Criei também a campanha do Sagabook a 1 real;
- Fiz sei lá quantas lives tanto no Youtube, quanto no Instagram;
- Dei mentoria gratuita para buscadores e consultores;
- Conheci minha linda esposa Fran;
- Nos casamos e ainda viajamos por boa parte do Brasil.
E assim que as fronteiras abriram, a gente veio juntos para a Itália.
ALGO ESTAVA DIFERENTE…
Só que agora, tinha algo diferente…
A Itália estava diferente, não era aquela que eu havia deixado anos antes, quando fui morar em Liverpool.
Depois da pandemia, tudo parecia estar muito confuso…
Quem estava aqui naquela época? Vocês viram a quantidade de coisa que eu inventei?
Criei uma comunidade chamada A Vida na Italia.
Mudei a Escola da Cidadania Italiana para Jornada da Cidadania Italiana.
Depois voltou a se chamar ECI.
Encerrei o programa de indicações de profissionais no blog.
Voltei depois com o programa, embora diferente.
Tudo muito confuso, as ideias não concatenavam direito e o mundo da cidadania começou a ficar estranho também.
Veio a famigerada grande naturalização, depois a proposta de lei, quando eu me posicionei dizendo que agora era algo sério e fui atacado por tudo que é lado…
E, mesmo sendo a única voz dizendo que as coisas iam mudar, veio o que eu temia (e havia antecipado!): a nova lei da cidadania italiana.
E o que estava ruim, ficou ainda pior…
As mentiras aumentaram, as promessas vazias também e os picaretas inventando novas histórias para continuar lucrando em cima do sonho das pessoas…
A VERDADE É QUE O MUNDO DA CIDADANIA ITALIANA MUDOU COMPLETAMENTE!
Depois da pandemia, tudo se tornou tão raso, tão fútil.
A cada novo vídeo publicado, dezenas de perguntas que demonstravam claramente que as pessoas sequer o haviam assistido.
Cada caixinha de pergunta aberta no Instagram me causava um mini AVC com as perguntas absurdas que chegavam.
Um monte de gente desqualificada chegando no mundo da cidadania italiana.
Empresas chegando e tratando o reconhecimento como commodity.
Entre no nosso site, faça a sua pesquisa de ancestralidade e pague o resultado em suaves prestações…
Advogados que nunca entraram em um ufficio di stato civile querendo me “corrigir” com informações descabidas que viravam piada entre eu e os oficiais di stato civile que eu conheço.
Aí eu percebi que o meu coração já não batia mais como antes…
PRA MIM, A CIDADANIA ITALIANA NUNCA FOI APENAS UM PEDAÇO DE PAPEL
Eu sempre tratei a cidadania italiana com respeito, com devoção, com reverência.
Prestando tributo e honrando as nossas raízes, os nossos antepassados…
Certa vez, dentro de uma mentoria que eu estava dando para profissionais – estes sim feitos da mesma coisa que eu – quando alguém soltou a pérola de que eu era um “artigiano della cittadinanza” – um artesão da cidadania.
Eu nunca quis ser o maior, o que mais faz, o que tem mais clientes.
Eu sempre procurei ser o melhor, aquele que trata todos com respeito, honestidade e ética.
O SENTIMENTO DE INADEQUAÇÃO, DE NÃO PERTENCIMENTO
E eu comecei a sentir o mesmo sentimento que eu tinha e que me fez deixar o Brasil.
E eu sei que é mesmo sentimento que muitos de vocês: de não pertencimento, de se sentir inadequado.
Sabe quando a gente dirige respeitando o limite de velocidade e todo mundo no carro fica rindo, dizendo que a gente dirige igual tartaruga, pois não precisa dirigir assim porque “ninguém tá vendo e não tem radar”?
Ou quando você está no trânsito com os vidros abertos por causa do calor, é assaltado e ainda te dizem “o culpado foi você que deixou os vidros abertos, baita vacilão”…
Pois é, foi isso que me fez sair do Brasil.
Eu queria viver em uma sociedade que eu me sentisse adequado, de não ser julgado e nem apontado por escolher o que é certo.
E, na cidadania italiana, eu comecei a me sentir exatamente assim também…
Eu não me vejo mais pertencente a esse atual mundo da cidadania italiana.
Agora não são mais as pessoas da “última ponta”, ou seja, os clientes, leitores, estudantes que não sabem o que fazem.
Agora é o pessoal da outra ponta. Aqueles que deveriam ser profissionais, dedicados, esforçados.
Eu olho para os profissionais que eu formei e vejo o abismo entre eles e grande parte deste mercado.
Fico feliz que são pessoas “frescas” e que vão tirar de letra tudo isso, vão ter capacidade e força para se desenvolver e se tornarem os novos protagonistas dentro deste mundo da cidadania italiana.
Estes meus alunos e mentorandos são o legado que eu estou deixando…
Assim como milhões de pessoas que se tornaram cidadãos italianos reconhecidos com a minha ajuda e o meu trabalho, seja de consultoria, seja de educação.
EU ME RECUSO…
Mas eu me recuso a completar 50 anos, em julho de 2026, fazendo algo que eu não acredito mais…
Por este motivo, este é o anúncio oficial:
Estou deixando definitivamente este mundo da cidadania italiana.
Um mundo que eu vi nascer, que ajudei a crescer e a pavimentar a estrada que todos percorrem hoje.
Saio de cabeça erguida, mas com o coração dilacerado por ver tudo que vem acontecendo…
Eu ajudei a criar as estradas, construí calçadas, casinhas lindas com cercas brancas e tudo mais necessário para que todos possam percorrer o caminho sem problemas ou dificuldades.
Agora, se tem gente que joga lixo pela janela do carro e não respeita os limites pré-estabelecidos, isso não é responsabilidade minha.
Como eu aprendi nestes anos todos olhando pra dentro de mim e compartilhando grande parte disso com vocês: não temos que pegar pra gente o lixo dos outros.
MUNDO VIRTUAL VS MUNDO REAL
Se você me acompanha apenas por causa da cidadania italiana, este blog vai continuar existindo, assim como o nosso canal no Youtube.
Porém nenhum novo conteúdo vai ser criado, publicado ou atualizado.
O Sagabook e o Guia da Vida na Itália também serão descontinuados, pois não tenho tempo para cuidar das atualizações necessárias.
E todos os outros programas e serviços relacionados ao mundo da cidadania italiana já foram excluídos!
Finito. Adeus.
Além disso, estou deixando a “vida pública” e me retirando da internet.
Já faz alguns meses que eu “voltei para o mundo real“, após trabalhar exclusivamente online por cerca de 30 anos.
Estou tendo a oportunidade de conhecer novas pessoas, ter novos colegas de trabalho, aprender novas habilidades e colocar toda a minha experiência para ajudar o meu teamwork.
Que sensação maravilhosa não precisar mais viver na internet, nem usar redes sociais.
Agora é papo olho no olho e conversa direta.
Hoje sou eu que verdadeiramente escolho o que eu quero, sem algoritmos escolhendo o que eu vou ler, ouvir ou consumir.
Consigo viver a vida com muito mais propósito e muito mais profundidade.
MINHA ÚLTIMA MENSAGEM PARA VOCÊ
Termino este último artigo com as minhas próprias palavras, escritas no dia 8 de novembro de 2007, quando precisei tomar a decisão que impactou todo o meu futuro no mundo da cidadania italiana, escolhendo desistir e mudar o meu processo para a Toscana:
Antes de mais nada quero dizer que nossa vida é feita de escolhas. Elas podem ser boas ou ruins mas sempre temos que faze-las.
E, se perceberem a todo instante em nossas vidas estamos fazendo algum tipo de escolha.
Escolhemos a cor da roupa que usaremos para ir a uma festa, escolhemos o corte de cabelo dentre tantos que vimos em uma revista, escolhemos até se iremos sorrir de volta ao gatinho ou gatinha que está logo ali, na balada.
E dependendo da escolha, pode ser que nada aconteça e cada um viverá a sua vida, ou quem sabe pode começar um romance que durará o resto da vida.
Como dizemos em italiano magari…
Escrevo isso para que todos saibam que, mais hora menos hora vocês também terão que fazer suas escolhas. Se serão boas ou ruins deixem que o tempo decida.
E saibam que todas elas terão 50% de chance de darem certo… ou errado. O risco existe, mas o que seria da vida sem correr riscos?”
…
Fiz a escolha certa? Não sei. Só o tempo dirá…
Só sei que existe sempre dois caminhos e, uma vez diante deles não podemos voltar para trás.
Temos que fazer uma escolha – eu fiz a minha!
Obrigado, obrigado, muito obrigado pela companhia nesta jornada linda
