O Que Acontece Se a Italia Entrar Em Guerra?
Bastou o início da invasão russa na Ucrânia, para que as minhas redes pipocassem mensagens do tipo “se a Italia entrar em guerra, os homens serão convocados?”
Ou ainda: “com a guerra acontecendo por aí, os processos estão sendo prejudicados?”
“É verdade que se a Rússia fechar as torneiras de gás, os italianos morrem congelados de frio?”
Então, vamos desmistificar isso, explicando a vocês com detalhes, o que pode ou não acontecer, além de dizer o que é verdade e o que é mentira nesse monte de coisas que estão sendo publicadas, principalmente no Brasil.
Começando por dizer algo que, acredito que a imensa maioria de vocês não sabem…
O QUE ACONTECERIA SE A ITALIA ENTRAR EM GUERRA?
Meus queridos e minhas queridas, provavelmente vocês não tem a menor ideia do que eu vou lhes dizer, mas desde que cheguei aqui na Italia, em 2007, vi nossas tropas partirem para um bocado de conflitos e guerras.
Aliás, nesse momento, temos milhares de soldados italianos em missão pelo mundo, travando os mais diferentes tipos de batalhas, e isso não foi – em nenhum momento – problema ou sequer algo relacionado aos processos de cidadania italiana, ou convocação de civis.
Veja aqui (dados de 2019) quantos soldados italianos estão em missão, e em quais países.
Por isso, se a sua preocupação é o que pode acontecer “se a Italia entrar em guerra“, entenda que a Italia já está envolvida em guerras e conflitos há muitos anos, em diferentes posições e países, sem que isso atrapalhe a vida aqui no país, ok?
Claramente que, nestes casos citados acima, não temos uma potência nuclear envolvida, mas isso vamos ver ao longo deste artigo, calma rs
GUERRA ENTRE RUSSIA E UCRÂNIA
Outra coisa importante é entender que no momento atual, a guerra que se iniciou com a invasão na Ucrânia pelas tropas russas, estão concentradas unicamente naquele país.
Isso significa que, na prática, os cidadãos dos outros países estão vivendo normalmente as suas vidas.
Da mesma forma que a sua vida aí no Brasil não foi afetada, a nossa aqui na Italia também não foi.
Tenho lido artigos de muitos “especialistas” no Brasil, dizendo que o boicote à Rússia vai prejudicar vários países da Europa, incluindo um provável problema por causa do gás que a Europa compra da Rússia.
É verdade que muitos países, incluindo a Italia, compra gás da Rússia.
Mas, tão logo começou o conflitos, várias medidas já começaram a serem adotadas aqui na Italia, clique aqui para acompanhar e entender um pouco melhor quais são elas.
E OQUEM RECONHECEU A CIDADANIA ITALIANA PODE SER CHAMADO PRA GUERRA?
Calma meninos!
Aqui na Italia, as coisas são diferentes do Brasil 😉
A “leva militare obbligatoria” ou seja, a obrigação de prestar os serviços militares, deixou de existir no dia 1º de janeiro de 2005, através da legge 226 de 23 de agosto de 2004.
Isso quer dizer que, a partir daquela data, este serviço passou a ser voluntário, restrito a quem faz o pedido e é aceito!
Outra coisa importante: a Italia só chamaria seus homens a “pegar em armas”, caso o território do país fosse atacado.
Isso porque, o artigo 11 da nossa Costituzione diz que
l’Italia non può mai ricorrere a un intervento bellico per offendere la libertà degli altri popoli, o come mezzo di risoluzione dei conflitti.
Ou seja, a Italia não pode simplesmente sair por aí “metendo o louco” e invadir outros países, como o psicopata Putin está fazendo neste momento…
Nossa Constituição não permite isso!
Por outro lado, isso não excluiria a convocação da população caso seja necessário defender o país em caso de ameaça externa.
Se a Rússia fizesse aqui o que fez na Ucrânia, automaticamente nossas Forças Armadas iriam se concentrar para defender a pátria.
Mas e aí?
Se isso realmente acontecesse e o psicoPutin resolvesse fazer isso, nós que somos reconhecidos iríamos pra guerra?
Vamos entender melhor como tudo isso funciona 😎.
EM CASO DE GUERRA NA ITÁLIA, QUEM VAI PRO “PAU”?
Neste caso hipotético, a primeira coisa seria a necessidade da aprovação do “ripristino dell’obbligo di leva”, ou seja, a reintrodução da obrigatoriedade do serviço militar.
Segundo o código militar, isso é possível com um decreto do Presidente della Repubblica, com prévia deliberação do Consiglio dei Ministri, porém com um detalhe, não de pouca importância:
Isso só aconteceria se a quantidade de pessoal em serviço seja insuficiente, e mais: a chamada às armas seria feita a todos aqueles que serviram as Forças Armadas pelo período não superior aos últimos 5 anos.
Por isso, meus queridos leitores masculinos, é praticamente nula a possibilidade de qualquer civil – sem que tenha sido militar aqui na Itália – seja chamado para servir junto às nossas Forças Armadas.
O que sinceramente eu acho uma ótima ideia. Imagine gente sem experiência com fuzil na mão?
Melhor nem imaginar 😉
Ahh, caso vocês queiram maiores informações sobre isso, leiam este artigo do site Money.it
Responde aqui embaixo, nos comentários:
Em um caso hipotético de guerra aqui na Italia, você se alistaria como voluntário (caso fosse possível) para lutar pelo nosso país? 🤔.
Obrigada pelo esclarecimento, Fabio. Estamos sendo bombardeados de perguntas por parte de pessoas que nos cercam sobre nossa ida à Itália e como ficaria a nossa situação. Esse seu texto já esclarece parte das dúvidas.
Grazie!
Só aqui que o povão sem experiência quer ter arma na mão! Mas só pra mostrar…se chamar pra guerra mesmo, some! hahaha
Se por uma causa injusta estivessem invadindo a Itália eu não precisaria ser convocado, me colocaria à disposição com ou sem cidadania reconhecida. A Itália é muito mais que um país, a Itália é a documentação da vitória humana sobre a barbárie. A arte, as cidades, as catedrais, os vinhedos… é o país da ópera , da poesia, da pintura, do conhecimento científico, do comércio. Atacar a Itália é um ataque pessoal a tudo que significa ser civilizado e humano. Está neste país o maior museu a céu aberto de quão longe podemos ir e fomos, e eu o defenderei.
Apesar de também estar na Europa, estou bem contente de ter lido estas respostas, pois quando quero saber algo novo sobre a Itália recorro ao seu blog.
Obrigada.